quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A divindade de Jesus pelos "Pais da Igreja"


Os assim chamados "Pais da Igreja" são os primeiros teologos e lideres influentes no grupo recém denominado Cristãos, após a morte dos apóstolos e antes do Concilio de Niceia (325 D.C). Suas idéias representam a aplicação da filosofia grega à interpretação dos evangelhos e da vida de Jesus, por tentarem identifica-lo ao conceito de "Logos", ou sabedoria. Para eles, a sabedoria/inteligência não era próprio de cada homem, ou circundada ao seu corpo material, mas antes uma fonte pelo qual todos adquiriam esta dádiva. Assim, o Logos Divino era a inteligência suprema que criou o Universo e suas leis. Para os Pais da Igreja, Jesus, como venceu a morte, deveria ter este atributo e ser assim um Deus. A seguir, o pensamento de alguns desses teologos sobre Jesus:*

  1. Justino, o Martir, foi um dos primeiros teólogos cristãos. Ele era discípulo de Sócrates e Platão, e adotava o estoicismo como filosofia. Pelo estoicismo, o universo é dominado pelo Logos divino, isto é, pelo pensamento racional que harmoniza todo o cosmos. Justino então faz um paralelismo e afirma que Jesus é o Logos encarnado. Pelas obras de Jesus, principalmente pelo caráter sobrenatural, e pela filosofia e moral elevado que ele pregava, ele identificou em Jesus o verdadeiro Logos e assim deveria ser Deus. Defendeu então os cristãos, acusados de pagãos, como sendo adoradores do verdadeiro Deus, revertendo os argumentos criados para as perseguições aos cristãos. Na sua obra “Dialogo com Trufão”, temos que Trufão pergunta como se pode provar que Jesus é cristo que existiu como Deus antes da criação e se submeteu a nascer como homem? Justino responde que não pode provar tais coisas e apenas indica que ele foi escolhido Cristo por eleição, tendo em vista que “cumpriu” as profecias a respeito do Messias. Sendo assim, a afirmação que Jesus é Deus não tem como ser provada por Justino.
  2. Inácio de Antioquia afirma que Jesus é o único filho gerado por Deus. Na epistola aos Efésios, ele refere-se a Jesus, por vezes confundindo como Deus-Criador,  como o “Senhor, nosso Deus” e a Deus como “Senhor de tudo”, pai de Jesus. Na epistola aos Magnésios, ele indica que Jesus é a manifestação de Deus, seu filho. Basicamente, o seu argumento reside no evangelho de João 1,14 “ E o Verbo se fez carne”. Os argumentos de Inácio se contradizem, pois como pode Jesus ser Deus se foi gerado?
  3. Orígenes de Alexandria defende que Jesus é o Logos deste mundo, ou a sabedoria, pelas quais todas as criaturas foram criadas para ele, conforme descrito no evangelho de João. Porém Jesus teve inicio, e assim é menor que Deus, mas possui a mesma natureza deste, a mesma substância que é a sabedoria. Esta sabedoria foi demonstrada não só pelo seu conhecimento de Deus, como também pela sua ressurreição, pois que somente aquele que tem antes a sabedoria divina pode assim, por sua vontade, transformar a natureza. É dito também que Jesus é Deus porque é o único que o conhece, pois é a imagem visível de Deus e seu único filho, conforme dito pelo apostolo Paulo. Afirma ainda que Jesus sendo da mesma natureza de Deus, qual seja a sabedoria, não se pode afirmar que sua geração tenha “diminuído” Deus, uma vez que naturezas incorpóreas não podem ser divididas.
  4. Clemente de Alexandria estava interessado em unir a filosofia grega com o cristianismo. Ensinava que a filosofia grega era uma antecessora do verdadeiro conhecimento que vem com Jesus. Para este conhecimento era preciso o caminho da perfeição moral e intelectual para se chegar a Deus. Nesse caminho, Jesus é o nosso instrutor e mestre. Como Deus, nas antigas escrituras, era o instrutor de Israel, ele afirma que sempre fora Jesus, o Deus de Israel. Clemente também era considerado um Gnóstico que era uma seita que defendia a inferioridade do mundo material.

Percebe-se assim que estes pensadores estavam interpretando as escrituras e a vida de Jesus, com a influência da filosofia e metodologia grega, e representam também uma tentativa de fundamentar a deidade de Jesus, em vista da necessidade de expandir a evangelização em contraste com um mundo dominantemente Pagão, com religiões com vários Deuses.
* Fontes: Ante-Nicene-Fathers-Vol-1, Vol-2, Vol-4 (Philip Schaff)

Um comentário:

  1. “Quem ouviu, alguma vez, semelhantes coisas? Quem, agora que as ouve, não tapará os ouvidos para impedir que essas ignóbeis palavras cheguem até eles? Quem, ouvindo João dizer: ‘No princípio era o Verbo’ (Jo 1,1), não condenará os que dizem: ‘Houve um tempo em que ele não era’? Quem, ainda, ouvindo estas palavras do Evangelho: ‘Filho único de Deus’ (Jo 1,18) e ‘Tudo foi feito por meio dele’ (Jo 1,3), não detestará os que afirmam que o Filho é uma das criaturas? Como pode ele ser igual ao que foi feito por ele? Como pode ser Filho único aquele que elencamos com todas as coisas, na categoria destas? Como viria ele do nada, ao passo que o Pai diz: ‘De meu seio, antes da aurora, eu te gerei?’ (Sl 109,3)? Como seria ele, em sua substância, diferente do Pai, ele que é a imagem perfeita e o esplendor do Pai (2Cor 4,4; Hb 1,3) e que diz: ‘Quem me vê, vê o Pai’ (Jo 14,9)? Se o Filho é o Verbo e a Sabedoria do Pai, como teria havido um tempo em que ele não existia? É como se dissessem que houve um tempo em que Deus não tinha Palavra nem Sabedoria. Como está sujeito à transformação e à alteração aquele que diz de si mesmo: ‘Eu estou no Pai e o Pai está em mim’ (Jo 10,38) e ‘Eu e o Pai somos um’ (Jo 10,30), e que disse pelo profeta: ‘Vede-me; eu sou e não mudo’ (Ml 3,6)? Mesmo que se pense que essa palavra pode ser dita pelo próprio Pai, seria agora, no entanto, mais oportuno, julgá-la dita por Cristo, porque, tornado homem, ele não muda, mas, como diz o Apóstolo, “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pela eternidade’ (Hb 13,8). Quem os leva a dizer que é por nós que ele foi feito, enquanto São Paulo diz: ‘Para ele e por ele todas as coisas existem’ (Hb 2,10)? Quanto à sua afirmação blasfema de que o Filho não conhece perfeitamente o Pai, não seria de causar surpresa, pois, uma vez que eles decidiram a combater Cristo, desprezam também as palavras do próprio Senhor que diz: ‘Como o Pai me conhece, eu também conheço o Pai’ (Jo 10,15)”.

    Alexandre de Alexandria-Século IV-.carta encíclica ao episcopado.

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